Os problemas no mundo corporativo têm diferentes origens, a mentira é uma delas. Não falo sobre o caráter. Existem pessoas “do bem”, que embora tenham a verdade como um valor familiar, cultural e religioso, mentem e enganam a outros e a si mesmas.
Este cenário é muito normal nas organizações. Lembrando que uma meia verdade já é uma mentira, as pessoas que não falam a verdade nem para seus pares nem para seus chefes, acabam mentindo para si mesmas e pior do que isso, acabam vivendo a própria mentira.
Em um trabalho com executivos, ao mapear os dados e fatos, descobre-se que a empresa tem problemas ocultos, ou seja, ela esconde conflitos. Entretanto, diz que tudo está bem! Esse “estar bem” é somente um mecanismo de autosabotagem, detentor da evolução da própria empresa.
Ele se caracteriza por várias características que geram alto impacto na organização e que se resumem em não discutir os fatos reais. Muito comum encontrarmos nas reuniões apresentações esteticamente bonitas e sem muitos agravantes, muito embora, existam pontos críticos que apóiam a degradação lenta e quase imperceptível desta empresa. E o sistema organizacional acaba manipulando os dados e as informações para favorecer alguns e desfavorecer a outros.
Este sistema é impalpável, gerado na mente humana e transmitido através de uma teia de informações insconscientes. Convites sutis, a nível inconsciente, são feitos a consciência dos homens para formatar um sistema de relacionamentos deformado.
Então, expõe-se tudo isso abertamentecom os executivos e eles ficam perplexos (que bom que fiquem!). É claro que esta cultura não se fomenta sozinha, afinal, existem pilares que as sustentam: o estilo de liderança vigente e – não se expante – o amor dos liderados à empresa e aos seus líderes e vice-versa.
Em grande parte, todo tipo de organização, nas quais existe uma cultura predominantemente hierárquica, autoritária e relacional, não se permite discordar abertamente nem confrontar as idéias contrastantes daqueles que estão no comando. E o mesmo comportamento acontece do líder com os seus pares.
No entanto, conforme hesitam sair da zona de conforto, as próprias pessoas do comando impedem as mudanças. No médio ou longo prazo, esta atitude causa danos ao desempenho empresarial e muitas vezes, eles se tornam irreparáveis a ponto de acontecerem as demissões e renúncias.
Então, chegam a conclusão de que é necessária a mudança! Todo processo de mudança desconfortável e, muitas vezes, doloroso divide-se em quatro fases.
A primeira é a da negação: tenta-se justificar os problemas e até mesmo, ignorá-los. O foco está no passado ao invés de enfrentar as dificuldades presentes. O ideal nesta fase é expôr as verdades, apresentar informações que as comprovam, avaliar as perdas e os ganhos e buscar as consequências da não mudança.
Porém, é uma estrutura hierárquica e relacional, na qual falar a verdade é causar um incêndio e, gerar o conflito é em definitivo a última alternativa. Pouquíssimas pessoas têm a coragem de ultrapassar esta fase. Aí talvez, existam pessoas de fora da empresa e que não estão com suas mentes atreladas ao sistema, que se arrisquem mais e digam a verdade.
Uma vez vencida a negação, passa-se à segunda fase, que é a da resistência. É o momento da raiva, de colocar a culpa nos outros, de desqualificar as informações apresentadas, distorcendo e modelando a realidade da forma mais aceitável para si mesmo. Muitos dos que arriscam a entrar nesta etapa se sentem acuados e desistem da mudança, principalmente se a empresa estiver faturando. Como aquele ditado que diz que em time que está vencendo agente não mexe. Afinal, o importante são os números…Mais uma mentira! A verdade é que quem fazem os números são as pessoas. Este é o maior capital da empresa.
Os que vencem o “vale da morte” (nomedesta fase) chegam à terceira etapa, que é a da exploração. Nela, as pessoas tendem a canalizar sua energia para a busca de novos rumos, novos objetivos. Aos poucos, começam as iniciativas e projetos na direção para chegar à quarta fase, que é a do comprometimento de criar nova vida, novos ciclos empresariais. Nesta fase, expressa-se a beleza das empresas e dos executivos que anseiam pelo desempenho sustentável de seus membros.
Atravessar por estas fases exige que as pessoas se transformem individualmente e digam a verdade. Talvez seja mais fácil recuar, negar e resistir, especialmente, quando os números atestam o sucesso da empresa. Esse processo de transformação é difícil, mas nunca é impossível.
Ao final, a empresa conquista o êxito no desafio de falar a verdade e quebra a formatação do sistema antigo, passando pelos processos de mudança.
Posso afirmar que, a despeito de trabalhar para empresas com problemas de performance, é maravilhoso notar o orgulho, a satisfação e o alto desempenho em seus líderes, quando estes se permitem mudar.
Vivian C. Nuñez Salas
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